Descubra a maneira correta de usar Óleos Vegetais nos seus cabelos
Costuma-se ouvir que todo o óleo cem por cento vegetal é adequado para Umectação, não é?
Mas na prática, não é necessariamente assim.
Se isso fosse verdade, porque compraríamos o óleo de coco, se já temos óleo de soja em casa?
Óleos diferentes para funções capilares diferentes
Sabemos que os óleos podem possuir uma série de vitaminas, podem ser antioxidantes, antibacterianos, antissépticos e antifúngicos.
Atualizamos com frequência nossa Lista de Óleos Vegetais com suas indicações para cabelo e pele. |
Mas hoje vamos nos deter em um ponto importante da composição dos óleos vegetais: a classificação de seus ácidos graxos.
Ai Cabelê que coisa mais chata!
Você pode até achar o assunto chato, mas acredita na gente: lê mais um pouquinho para não cometer o mesmo erro que agente costumava cometer.
Óleos Saturados vs. Óleos Insaturados
Acho que podemos afirmar que todos nós já ouvimos falar de óleos saturados, insaturados e poli-insaturados.
Isso normalmente ocorre em revistas e programas de televisão que falam sobre nutrição e vida saudável, correto?
E se a gente te disser que esses mesmos termos são essenciais para a gente entender quais óleos são adequados para determinadas funções capilares e quais óleos não farão diferença alguma se usados na tarefa incorreta?
Os óleos podem ser usados na etapa de nutrição do CC, umectação e na técnica de finalização chamada LOC. Falamos dessa ultima nesse post sobre 'Como impedir o Gel de esfarelar na finalização'. |
Se os óleos são misturas de ácidos graxos saturados, mono e poli-insaturados, o que determina se um óleo é saturado ou insaturado?
Os óleos são compostos por ácidos graxos que podem ser saturados, insaturados ou poli-instaurados.
Consideram-se óleos saturados aqueles que tem ácidos graxos saturados em maior quantidade. Fácil não é?
Pela lógica, determinamos também que são insaturados aqueles ricos em ácidos graxos dos tipos monoinsaturado e poli-insaturado.
Qual o melhor tipo de óleo para os cabelos? Saturado, Insaturado ou Poli-insaturado?
A partir daqui, nossa pesquisa é norteada pelo material da autora americana Audrey Davis-Sivasothy¹.
Os ácidos graxos saturados penetram com mais facilidade nos fios de cabelo.
Isso se dá pois sua estrutura molecular é mais adequada para este tipo de manobra. Sua estrutura tem aparência bem retinha.
Ácidos graxos monoinsaturados tem estruturas mais complicadas, o que dificulta (mas não impede) a penetração.
Eles tem uma voltinha, não são retos como os ácidos graxos saturados.
Já os poli-insaturados são estruturalmente ainda mais complexos, pois são cheios de curvas.
Não existem estudos que mostrem qualquer capacidade de penetração deste último tipo de óleo na fibra capilar. Eles apenas se depositam na camada externa do fio até a próxima lavagem.
Estas substâncias que encapam os fios são chamados Agentes oclusivos. Leia mais sobre eles neste link. |
Um Exemplo de comportamento dos ácidos graxos nos cabelos
Para exemplificar, se olharmos para esse desenho, podemos pensar nas vagas de estacionamento como as escamas da cutícula do cabelo.
Os carros menores tem facilidade de estacionar nas vagas, sem precisar de grandes manobras.
O carro verde também conseguiu, mas podemos observar que ele provavelmente teve mais dificuldade para se encaixar.
O caminhão vermelho, por sua vez nem com esforço conseguirá se espremer naquele espacinho vazio. Infelizmente, em virtude de seu tamanho, ele terá que ficar estacionado do lado de fora das vagas.
Os carros menores são os ácidos graxos saturados. Se encaixam sem esforço
O carro verde é um ácido graxo insaturado. Consegue entrar, mas com menos facilidade que o primeiro.
O caminhão vermelho é um ácido graxo poli-insaturado. Não consegue penetrar, fica do lado de fora.
Entenda aqui Qual a diferença entre Absorção e Adsorção. |
Como descobrir se um óleo é Saturado, Insaturado ou Poli-insaturado?
Digite no
a) óleo de <insira aqui o nome da planta/semente/fruto>
b) ácidos graxos
c) saturado insaturado
d) perfil de ácidos graxos
Você provavelmente encontrará uma série de trabalhos acadêmicos e outras publicações técnicas.
Entre nesses textos e procure onde são apresentadas as quantidades percentuais dos ácidos graxos saturados, monoinsaturados, poli-insaturados.
Algumas vezes está no texto e em outras em tabelas. Vamos mostrar alguns exemplos em seguida.
Este material faz parte de uma série sobre penetrabilidade dos óleos, confira todos os textos usando os links abaixo:
Como escolher o melhor óleo para o cabelo?
1) Quanto mais próximo de 100 for a porcentagem de ácidos graxos saturados, mais facilidade o óleo terá de ser absorvido pelo cabelo.
2) Se a soma de ácidos graxos saturados e monoinsaturados for maior que 50, a maior parte do conteúdo do óleo tem capacidade de penetração na haste capilar.
3) Se o óleo tiver concentração de ácidos graxos poli-insaturados acima de 50% esse óleo pode não ser o mais indicado para umectação e nutrição, já que a maior parte dele não será assimilada pelo Complexo de Membrana Celular - CMO (a parte interna do cabelo composta de lipídios²).
4) Quanto mais próximo de 100 for o percentual de ácidos poli-insaturados menos conteúdo do óleo será absorvido pelo seu cabelo.
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Exemplos de Perfil de Ácidos Graxos aplicados à estética capilar
Óleo de Coco - Perfil de Ácidos Graxos
http://www.mapric.com.br/anexos/Boletim922_01092014-09h01.pdf |
Nesse texto estava moleza.
Se 85% do óleo de Coco é composto por ácidos graxos saturados sabemos que ele será absorvido com facilidade pelo cabelo.
Concluímos que o Óleo de Coco é adequado para Umectação. Aprenda aqui como retirar o óleo dos cabelos de forma delicada pelo método UCPE. Tutorial em texto e vídeo! |
Óleo de Semente de Uva - Perfil de Ácidos Graxos
http://bjft.ital.sp.gov.br/artigos/especiais/2010/artigos_bjb_v70ne/05_bjft_v13ne_13e0103.pdf |
Nesse caso temos uma tabela bem detalhada, e no final os percentuais que nos interessam.
De cara já vemos que quase sessenta por cento do óleo de semente de uva não será absorvido pelo cabelo.
Conclusão: A maior parte dos ácidos graxos (58,78% do volume) não penetrará nos cabelos.
Óleo de Argan - Perfil de Ácidos Graxos
http://pharmakondf.com.br/Pharmakon/arquivos/INSUMOS_FARMACEUTICOS/O/Oleo_de_Argan.pdf |
Esse está um pouco mais confuso mas com atenção podemos conseguir as informações que precisamos.
Pelo texto entendemos que o ácido Oléico é monoinsaturado e corresponde a 45 a 55% do volume de ácidos graxos do óleo de argan.
Os óleos Palmítico e Esteárico são saturados e variam (somados) de 15,3 a 21,5%.
Já o ácido Linoléico é di-insaturado (ou seja, poli-insaturado) e corresponde a 28 a 36%.
Conclusão: Somando (o mínimo de) ácidos monoinsaturados e saturados temos aproximadamente 60%. Ou seja... mais da metade terá possibilidade de penetrar as hastes capilares.
Vamos preparar um post completinho com uma lista discriminando os ácidos graxos de outros óleos vegetais. Tem alguma sugestão? Deixe nos comentários! |
Vamos Exercitar?
Que tal treinar suas novas habilidades?
Dentre os óleos abaixo qual seria a sua escolha para batizar uma máscara na etapa de nutrição dos seus cabelos?
Óleo de Soja
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732015000100065 |
Óleo de Amêndoa Doce
http://www.scielo.br/pdf/pat/v43n1/04.pdf |
Terminando
Sabemos que esse post foi comprido e um pouco cansativo.
Algumas semanas depois, desenvolvemos outro material, mais simplificado esclarecendo algumas das dúvidas que surgiram. Clique no link da caixa abaixo.
Como usar óleos vegetais nos cabelos? |
O tema não se esgotou nestes post. Ainda surgirão, desdobramentos sobre os óleos vegetais do ponto de vista da sua penetrabilidade.
Ficamos felizes compartilhar estas dicas que otimizarão a sua rotina de cuidados capilares.
Lembrem-se: Pesquisem a saturação antes da próxima compra de óleo vegetal!
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¹ Davis-Sivasothy, A. (2011). The Science of Black Hair: A Comprehensive Guide to Textured Hair. SAJA Publishing Company.
² Masukawa, Y. ; Narita, H. & Imokawa, G. (2005). Characterization of the lipid composition at the proximal root regions of human hair. Journal of Cosmetic Science ed. 56 v. 1. pp. 1-16