A mudança na cor dos cabelos faz parte da vida das mulheres brasileiras. Há um apelo significativo para a coloração de acordo com as estações do ano, com os lançamentos do momento e inclusive a partir do que as personalidades da mídia estão usando. Tudo isso são tendências de consumo que despertam a vontade de colorir os fios. No caso de mulheres com cabelos naturalmente cacheados ou crespos que passaram pela transição capilar, essa vontade de brincar com as possibilidades de cor é muito frequente já que a impressão que se tem é que, uma vez livre de "químicas" alisantes e relaxantes, é possível mudar a cor sem medo.
A má notícia é que as colorações e descolorações também são "químicas" e existem estudos que associam os processos de coloração e descoloração com danos à fibra capilar. Vejamos o porquê.
Os efeitos da coloração e da descoloração sobre cabelos naturalmente crespos
A primeira coisa que a gente precisa ter em mente é que quando passamos por um processo como a descoloração, não estamos mudando só a superfície, isto é, a aparência dos cabelos. A mudança de cor representa também uma mudança na estrutura dos fios e pode inclusive, prejudicar aspectos como a definição dos cachos.
Em resumo, nossos fios possuem três partes principais: a parte central é chamada de medula, que por sua vez é envolta pelo córtex. A parte mais externa é chamada de cutícula. Cada uma delas tem funções específicas e precisam ser preservadas para manter a saúde dos cabelos.
Tinturas temporárias como os tonalizantes geralmente se fixam na parte externa dos fios e tendem a sair aos poucos, lavagem após lavagem. As tinturas permanentes por sua vez, possuem agentes oxidativos que permitem o depósito de pigmento artificial no córtex e a fixação da cor por mais tempo. O grande problema é que a região do córtex contém nossos pigmentos naturais e é responsável em grande medida pela elasticidade, a forma e a resistência dos cabelos. Na verdade, a maior parte do “corpo” do nosso cabelo corresponde ao córtex.¹ Nesse sentido, quando falamos em coloração permanente, os danos costumam ser mais profundos que aqueles ocasionados pelas colorações temporárias sem amônia.
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De modo geral, as colorações convencionais agem através da água oxigenada (peróxido de hidrogênio) e da amônia. Diferente do pH natural dos cabelos, que é ácido, os produtos usados para o clareamento dos cabelos possuem um pH altamente alcalino para facilitar a "abertura" da cutícula, a oxidação da melanina natural e a transformação para uma nova cor. Esse processo é muito agressivo e pode ocasionar a perda de massa dos fios, que se tornam mais “finos” e enfraquecidos após sucessivos processos de coloração ou descoloração.
Aliás, a descoloração é ainda mais agressiva que a coloração nesse aspecto. Alguns estudos apontam que além de degradar os pigmentos naturais, ela oxida os aminoácidos presentes no fio. Pesquisadores chegam a falar na destruição de 15 a 45% da cisteína dos cabelos.²
Essas alterações são sentidas na capacidade de resistência dos fios, que podem se partir com facilidade ao serem puxados. As consequências desse tipo de agressão também podem ser notadas a partir da alteração na superfície da fibra capilar. Cabelos quimicamente destratados se tornam mais opacos e ásperos ao toque em função dos danos à cutícula e da quebra.³
Em cabelos saudáveis, as cutículas apresentam-se sobrepostas como uma espécie de telhado que protege o comprimento dos fios. Não se trata de um fechamento completo, mas de estado "semiaberto" que permite a penetração de tratamentos por exemplo. A gente sabe que superfícies mais lisas refletem a luz com mais facilidade, correto? O contrário também é verdadeiro: diante da degradação da fibra capilar ocasionada por agressões químicas, as cutículas podem ficar mais "abertas" e comprometidas em algumas regiões. Assim, os fios perdem brilho, proteção podem se tornar mais porosos.⁷
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A porosidade é essa capacidade que nossos fios possuem de absorver/reter líquidos. Quando os fios estão muito porosos, podem ter dificuldade para reter a hidratação em seu interior, ocasionando falta de maciez e dificuldade para pentear. Assim, por mais que os fios absorvam muita água durante a lavagem, perdem a umidade com a mesma facilidade.
Estima-se que um fio normal, em boas condições, quando seco tem 15% de água e quando molhado, absorve até 30% do seu peso em água. Fios com a cutícula danificada, podem absorver até 40% do seu peso em água.⁴
Esse quadro assustador pode ser minimizado por algumas novidades produzidas pela própria indústria cosmética. Nesse sentido, vou dividir com vocês algumas dicas para cuidar dos cachos coloridos e minimizar os danos causados pelas mudanças da cor.
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Cuidados ao colorir cabelos crespos
Posso dizer que me tornei uma camaleoa depois da transição capilar. Já usei tonalidades em chocolate, azul, vermelho, dourado, violeta e por aí vai. Para quem também está sempre mudando a cor e não tem a necessidade de cobrir cabelos brancos, uma boa opção é substituir as colorações com amônia pelos tonalizantes. Como já vimos até aqui, eles se depositam na superfície dos fios e são bem menos agressivos para a saúde dos cachinhos. Além disso, por se soltarem com mais facilidade, tornam o processo de mudança mais tranquilo.Outra recomendação para quem pretende continuar mudando é passar bem longe da tintura preta. A coloração é o resultado da interação entre o pigmento que já está nos nossos fios e o pigmento novo que chega. Nesse sentido, quando os cabelos já possuem um pigmento artificial, principalmente um tão escuro, a dificuldade para retirar esse pigmento e chegar em tons mais claros é enorme. Portanto, se você quer apenas dar uma pausa nas colorações mas sabe que logo logo o bichinho da mudança vai te morder, opte por tons de castanho claro ou castanho médio e fuja do preto.
Outra recomendação é evitar descolorir o mesmo comprimento de mecha sucessivas vezes para evitar a alta porosidade. Sempre que possível, trabalhe com a descoloração e o retoque de cor apenas do comprimento de mecha novo que está crescendo. Esse cuidado é essencial para cabelos crespos, que são naturalmente mais finos e frágeis e que costumam se partir com manipulações simples, como o ato de pentear, escovar, amarrar, etc.
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Manutenção e tratamento de cabelos crespos coloridos
Na hora de lavar, quem tem cabelos coloridos deve evitar a água quente. Se possível, é interessante evitar também shampoos com tensoativos sulfatados e optar por shampoos de limpeza suave, liberados para a técnica Low Poo. Isso porque, alguns shampoos convencionais utilizam tensoativos como o Sodium Lauryl Sulfate, TEA Lauryl Sulfate, Ammonium Lauryl Sulfate e TEA Dodecylbenzene, que em função do alto poder de limpeza são considerados mais agressivos e podem deixar os fios ressecados⁴ Caso não abra mão do shampoo convencional, invista no pré-poo, ou seja, nos mini tratamentos antes do shampoo.⁵
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Na finalização, é essencial buscar por produtos com proteção solar. Já reparou que algumas pessoas possuem manchas mais claras na tintura, principalmente no topo da cabeça, e que geralmente essas regiões também são mais secas? Pois é, a exposição excessiva ao sol sem proteção pode precipitar o desbotamento da cor. Além disso, segundo pesquisas, a ação dos raios UVB, causa fotodegradação das ligações de cistina dos cabelos, que tem como consequência menos resistência e mais porosidade.⁶
Como nossos cabelos já ficam mais frágeis no pós-coloração, o ideal é ficar um tempinho longe de fontes de calor como o secador e chapinha. Mas se não tiver jeito, os finalizadores com proteção térmica também são uma ótima dica.
Por fim, para manter seu crespo colorido e bonito, faça um corte de manutenção a cada 3 ou 4 meses. Tirar as pontinhas é uma ótima maneira de manter o balanço, valorizar o formato dos fios e claro, se livrar de possíveis pontas ressecadas.
Alguns produtos liberados para Low Poo e/ou No Poo que podem auxiliar no tratamento de cabelos crespos coloridos:
- Condicionador Color Fixation - Surya (No Poo)
- Condicionador Soft Poo Tudo na Hora do Banho - Sou Dessas (No Poo)
- Manteiga Arginina e Colágeno - Soft Hair (No Poo)
- Spray CPA Eu Sei O Que Você Fez Na Química Passada - Lola Cosmetics (No Poo)
- Máscara Be(M)dita Ghee Reconstrução Papaya e Queratina - Lola Cosmetics (No Poo)
- Banho de Creme Pós-Química Abacate e Jojoba - Bio Extratus (Low Poo)
- Finalizador Pós-Química Abacate e Jojoba - Bio Extratus (Low Poo)
- Linha Pós-Coloração Goji Berry - Bio Extratus (Low Poo)
- Proteína Capilar Bendito Seja - Haskell (Low Poo)
Por Maressa de Sousa, do Cacheia.
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Referências
¹ OLIVEIRA, V. G, 2013, IN: SANTOS, Andreza C. Fibra Capilar, Agentes de Coloração e Descoloração: Química, Mecanismos de Ação e Danos Oxidativos. Disponível em: <portalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/235/1-Fibra_Capilar_Agentes_de_ColoraYYo_e_DescoloraYYo__QuYmica_Mecanimos_de_AYYo_e_Danos_Oxidativos.pdf>
² WICHROWSKI, L. 2007 IN: CHILANTE, Jucemara Aparecida; DE OLIVEIRA VASCONCELOS, Leonardo Bruno; DA SILVA, Daniela. Análise dos princípios ativos do protocolo destinado à reestruturação capilar. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Jucemara%20Chilante,%20Leonardo%20Vasconcelos.pdf>
³ Vanessa Zulueta Antonio, Valéria F. Monteiro, Valéria Longo, Carlos A. Paskocimas, Elson Longo. Mudanças causadas em cabelos por meio de tinturas permanentes. Disponível em: <https://www.katleia.com.br/wp-content/uploads/2017/09/15.pdf>
⁴ GOMES, A.L, 1999 IN: PONTAROLLA, Rayssa Stephani Carolina; MALUF, Daniela Florencio. Reconstrução capilar com base de queratina termicamente ativada. Disponível em: <http://tcconline.utp.br/media/tcc/2017/03/RECONSTRUCAO-CAPILAR-COM-BASE-DE-QUERATINA-TERMICAMENTE-ATIVADA.pdf>
⁵ BAPTISTA, Karina F. & BONETTO, Nelson C. F. Estudo comparativo de xampus com e sem tensoativos sulfatados. . <http://revista.oswaldocruz.br/Content/pdf/Edicao_12_Baptista_Karina_Fernandes.pdf>
⁶ GOMES, 1999; FLOERVAS, 2010 IN: CHILANTE, Jucemara Aparecida; DE OLIVEIRA VASCONCELOS, Leonardo Bruno; DA SILVA, Daniela. Análise dos princípios ativos do protocolo destinado à reestruturação capilar. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Jucemara%20Chilante,%20Leonardo%20Vasconcelos.pdf>
⁷ MANSUR; GAMONAL, 2004; NAKANO, 2006 IN: CHILANTE, Jucemara Aparecida; DE OLIVEIRA VASCONCELOS, Leonardo Bruno; DA SILVA, Daniela. Análise dos princípios ativos do protocolo destinado à reestruturação capilar. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/Jucemara%20Chilante,%20Leonardo%20Vasconcelos.pdf>